sábado, 10 de novembro de 2012

Mistérios do Desconhecido: "Crusade"

Doze anos antes do fantástico (em sua versão do diretor) Crusada, de Ridley Scott e treze antes do 300 de Zack Snyder, uma obra fodástica, que reunia as melhores características de ambos os filmes, foi abortada. Estou falando, é claro, de Crusade, roteiro de Walon Green, que seria dirigido por Paul Verhoeven e estrelado por ninguém menos que o (então) pré-Governator Arnold Schwarzenegger. 

O roteiro não faz feio quando comparado com a obra mais famosa de Green, The Wild Bunch (ou, para usar o meloso título nacional, Meu Ódio Será Sua Herança): a história se passa no século XI e segue as aventuras de Hagen, filho ilegítimo de um nobre francês que, após ser preso tentando afanar tesouros da Igreja Católica, consegue escapar da fogueira (graças a uma picaretagem dolorosa, porém hilária e engenhosa) e, para tirar o rabo da seringa, acaba embarcando na Primeira Crusada (popularmente conhecida como "aquela escrotice horrível que serve de motivação para todo terrorista muçulmano que tem ódio do ocidente judaico-cristão"), sob o comando de seu irmão aristocrata, arquiinimigo e douchebag de primeira grandeza, Emmich. Este não está nem um pouco interessado na companhia do meio-irmão bastardo e fará de tudo para sacaneá-lo.

Por que a obra não foi produzida? Basicamente, a Carolco, que estava financeiramente complicada, não aceitou muito bem a brutal honestidade do Holandês Voador, que, mostrando que pode ser acusado de tudo, menos de mentiroso, recusou-se a garantir que o orçamento não ultrapassaria os previstos US$ 100 milhões. Em consequência, o filme foi para o development hell, onde se encontra até a presente data e de onde, provavelmente, nunca sairá. O que é lastimável, porque o roteiro de Green combina crítica impiedosa à Igreja com cenas de ação eletrizantes e ultraviolentas. Sem exageros, o troço faria 300 parecer Conduzindo Miss Daisy - entre os momentos marcantes, de cabeça, posso citar a luta, no início do saga épica, entre Hagen e seu irmão acanalhado, que termina com o elmo do Emmich encravado no rosto deste e uma subsequente deformação tenebrosa, que só vai exacerbar o ódio entre os manos; e uma sequência que se inicia com o Hagen costurado dentro da carcaça de um asno (literalmente: o negócio é tão grotesco e nojento quanto a descrição faz parecer), sua subsequente fuga e luta com hienas (FUCK! YES!), culminando numa cena de batalha de proporções titânicas, na qual o protagonista, inicialmente desarmado, se vira, inicialmente, com uma foice (MOTHERFUCKER!) e, à medida em que vai matando inimigos, começa, como o Kratos, a fazer uma série de upgrades, terminando com armadura completa e espada gigantesca. O filme tem de tudo: ação, violência extrema, humor negro, romance e nenhuma frescura em retratar a Crusada como uma palhaçada sanguinária e a Igreja, como o supra-sumo da escrotice.

Mas, como já disse, provavelmente jamais veremos o filme (o Arnoldão é titular dos direitos sobre o roteiro e provavelmente seria considerado "velho demais" para interpretar o protagonista, mas eu ainda acho que ele poderia encarar o papel). E o que a Carolco decidiu produzir no lugar de Crusade?  


A Ilha da Garganta Cortada. Se você  viu o filme, é muito provável que você não exista. Se você não viu, posso resumi-lo da seguinte forma: imagine Piratas do Caribe sem o humor, com a Geena Davis no lugar do Johnny Depp e Matthew Modine no lugar da Keira Knightley e eis a obra que foi feita no lugar de Crusade.

CAROLCO! CAROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLCO!
Para a surpresa de absolutamente ninguém, o filme do Renny Harlin levou a Carolco à falência. Provando que, como dizia Calvino, Deus castiga.

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