sábado, 1 de setembro de 2012

Manifesto de um Cinéfilo Ultrajado: "A Rede Social" prova que "Críticos Profissionais de Cinema" do Mundo Todo São Picaretas

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer algumas coisas. Eu vi A Rede Social (The Social Network) e achei o filme muito excelente, o que não me surpreendeu, pois sou fã do David Fincher. Adoro todos os filmes do cara, com exceção do "Alien ao Cubo"  (que ele também odeia e repudiou, de modo que nem se pode dizer, propriamente, que é um filme dele) e do Benjamin Button, que é uma boa idéia para um curta de 20 minutos prolongada por quase três horas desinteressantes. Gostei até de Quarto do Pânico, apesar do roteiro manjado e da premissa retardada (sério, a Jodie Foster tem um quarto do pânico e esquece justamente de deixar a medicação da filha em tal recinto?). O que me deixou estarrecido, contudo, foi algo que percebi ao guardar o Blu-Ray: os comentários na capa. E vale lembrar que gosto muito de exagerar no uso de hipérbole.

"Alguém precisa começar a se conter...", ponderei, atônito.
Nenhuma dessas citações está fora de contexto: todos os críticos citados, e muitos outros (até o Roger Ebert e o James Berardinelli, cujas opiniões, embora nem sempre se coadunem com as minhas, eu respeitava) aclamaram o filme como um marco, o evento cinematográfico da década, uma obra revolucionária, um filme de relevância artística e social que não se vê há décadas, o retrato de uma geração, o ápice da carreira do David Fincher. E reparem que não estou falando de um filme que considero ruim. Pelo contrário: achei o filme fantástico. Mas, um marco? Revolucionário? Retrato de uma geração? Li os elogios em voz alta e minha esposa, que viu o filme comigo, comentou que achava que não entendia nada de cinema, pois, embora tivesse gostado, não achou que A Rede Social era "tudo isso".

E foi então, caros leitores (estou presumindo que haja mais de um e, se não houver, mudarei isso, mas deixemos tal comentário para adiante) que senti se confirmar uma suspeita que me incomodava desde que vi O Cavaleiro das Trevas Ressurge e morri de rir das críticas que enalteciam a profunda "crítica social" contida no filme. Deve ser evidente, para alguém que acompanhe este blog, que não tenho muito respeito pelos "críticos profissionais de cinema" brasileiros. Entre Rubens "eu não entendo de cinema, mas falo mais ou menos bonito, de modo que todo idiota pode ler minha opiniões, concordar e se sentir inteligente" Ewald Filho (ou, para condensar, o "Paulo Coelho da Crítica de Cinema", com a diferença de que o Paulo Coelho pelo menos contribuiu com umas músicas massa do Raul Seixas), Isabela "Não sei nada sobre gibis, mas 300 é um filme de ação superficial baseado num gibi, então vou presumir que todas as graphic novels são psicologicamente superficiais" Boscov e Pablo "Maria-Vai-Com-As-Outras" Vilaça, a única coisa que gosto nos críticos brasileiros é que eles fazem eu me sentir intelectualmente superior. Isso porque, sempre que lia (parei há anos) resenhas desses indivíduos, pensava "Puta merda, eu entendo muito mais de cinema do que esse(a) mal-aventurado(a), e nem sou pago para escrever a respeito". Mas agora percebo que fui injusto com meus conterrâneos. A inépcia de "críticos profissionais de cinema" não é um fenômeno brasileiro. É um vibrante movimento social que se estende por todo o globo. Rubens, Pablo, Isabela, perdoem-me. Vocês não entendem menos de cinema do que outros "profissionais". Todos são igualmente péssimos. Por que?

Porque, embora The Social Network sejam um filme fodástico, há uma grande diferença entre "filme excelente" e "filme revolucionário". Inegável que o cinebiografia de Mark Zuckerberg (ou "The Zuck", como vou chamá-lo doravante, porque o nome do cara é longo e eu não tenho saco pra ficar repetindo) tem excelentes interpretações, um roteiro conciso, com diálogos acelerados e bem escritos que, associados a uma edição dinâmica e à excelência habitual do diretor, prendem o espectador da primeira à última cena. Trata-se, sim, de um grande filme, talvez até uma obra-prima. Mas inovador? Um marco? Retrato de uma geração? Para se merecer tais adjetivos, entendo eu, um filme precisa fazer algo que nunca foi feito antes. Para ser o "retrato de uma geração", é preciso que faça uma dissecação de seu contexto histórico de uma maneira que leve o espectador a ver seu mundo como nunca viu antes.O que faz A Rede Social merecer tais adjetivos?

As interpretações são, inegavelmente, excelentes. Mas é possível citar uma infinidade de filmes que atendam a esse requisito. A trama? Não vou nem levar em conta o grande contraste entre o Mark Zuckerberg criado pelo roteirista, Aaron Sorkin e o Zuckerberg verídico. Eu, particularmente, só criei uma conta no Facebook há pouco tempo, não por "não entender a graça que essa juventude de hoje vê nisso", mas porque: a) eu sou um misantropo que não faz a menor questão de ter muitos amigos no mundo físico, quanto mais on-line; e b) prezo muito minha privacidade e tive que pensar seriamente nos riscos que estava correndo ao colocar meus dados pessoais ao alcance de The Zuck (pois ele já fez coisa que levou gente menos astuciosa a ver o sol nascer quadrado). Seria burrice querer que o filme fosse fiel aos fatos, pois, se há uma coisa totalmente inequívoca, é que Aaron Sorkin adora romancear  realidade a fim de tornar mais fácil a admiração, ou, ao menos, a identificação entre o espectador e o protagonista. Analisemos, portanto, a trama de forma objetiva: jovem rico, estudante de universidade Ivy League, através de práticas de ética duvidosa, fica ainda mais rico e poderoso, talvez às custas de grandes prejuízos em sua vida pessoal. Trata-se, basicamente, da velha história do hubris, do homem que "ganha o mundo e perde sua alma". E daí? Grandes filmes já partiram de tal premissa, mas isso não quer dizer que o núcleo da trama A Rede Social seja inteiramente manjado e já tenha rendido filmes superiores, certo?

Peraí...
Brincadeira. Não sou um idiota pretensioso que compara todos os filmes que assiste a referenciais superlativos. Vou comparar A Rede Sociala a um filme bastante inferior.

Este filme
Não estou querendo dizer que os dois filmes são a mesma coisa. Piratas da Informática é um filme  chumbrega da TNT, ao passo que A Rede Social é uma produção milionária dirigida por David Fincher. Mas é curioso como a história de Zuckerberg é semelhante à de Bill Gates - os dois são gênios que revolucionaram a informática, ambos estudaram em Harvard e ambos (muito provavelmente) furtaram suas grandes idéias. A diferença é que o filme da TNT, embora muito inferior, não tenta tornar Bill Gates mais cool do que ele realmente é e diz, com todas as letras, que ele subtraiu a idéia do Windows do Steve Jobs. Mas eu nem acho que isso torna o personagem repugnante. Querer acusar Bill Gates (com seu "sistema operacional com interface gráfica") ou Mark Zuckerberg (com sua "rede social de design simples, porém eficaz e viciante") de plagiários seria o equivalente a eu querer processar toda a indústria automobilística porque, aos oito anos, imaginei como seria legal se inventassem um carro capaz de funcionar com etanol e gasolina. Ou ao James Ellroy querer processar o Dennis Lehane por escrever romances policiais com protagonistas de ética duvidosa. Não tenho nada pessoal contra Gates ou (mais relevante para o filme que estou abordando) Mark Zuckerberg. Talvez inveja. Não, não posso nem dizer "Cacete! Por que eu não tive essa idéia antes daquele pirralho?", porque sei exatamente qual é a resposta ("Ele é mais inteligente e você não entende porra nenhuma de programação.") Mas a diferença crucial entre os dois filmes pode ser explicada descrevendo as reações que tive após vê-los. Ao ver Pirates of Silicon Valley, minha reação foi "Putz, Bill Gates realmente é um escroto!" Minha reação ao ver The Social Network foi "Putz, Mark Zuckerberg é muito foda! Ele dedica toda a duração do filme a passar sua superioridade intelectual na cara dos outros." É tal "vício de personalidade", aliás, que o Sorkin parece tentar transformar em hubris, para tornar The Zuck um anti-heroi trágico. Digo "parece" porque é óbvio que a intenção do roteirista é o oposto: apesar de passar, ostensivamente, a imagem de que "Mark Zuckerberg é um nerd alienado", a imagem que o filme realmente passa é "Mark Zuckerberg pode ser franzino e esquisito, mas consegue, com seu intelecto superior, humilhar todo mundo, de professores, advogados, até os gêmeos Winklevoss, marombeiros e garotos-propaganda da supremacia ariana (e o Zuck, veja você, é judeu! Só me liguei nisso agora! Ele é mais massa ainda!). E você, espectador nerd, provavelmente é como ele, só que ninguém percebeu ainda." O protagonista de A Rede Social pode ser insensível, arrogante e completamente desprovido de tato, mas dizer que ele não é cool, para usar acertadíssima analogia do David Wong, é como ver Pulp Fiction e dizer que o Brett é um personagem mais massa do que o Jules, por ser mais educado. E, acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo, Sorken ainda introduz dois elementos completamente ridículos: 1) tudo que conduziu à criação do Facebook começou porque Mark Zuckerberg estava com dor-de-cotovelo; e 2) ele pode ser o bilionário mais jovem do mundo, mas está sozinho e infeliz; apesar de tudo, ele não tem o que realmente quer: uma namorada e um amigo de verdade.

Sinto muito, pessoal, mas isso é picaretagem para consolar os 99.9% dos espectadores que são menos bem-sucedidos, inteligentes e ricos que o protagonista. Suspeito que a verdade seja bem diferente. Ilustrarei minha percepção através de imagens.


Razão do Zuck ter criado o Facebook no filme:
Chega-pra-lá da Rooney Mara
Mark Zuckerberg no final do filme:


Razão do Zuck ter criado o Facebook, na vida real:

"ESTOU ENTEDIADO. VAMOS ATIVAR A PORRA DA LINHA DO TEMPO EM TODOS OS PERFIS"
Mark Zuckerberg, na vida real:


Sério, por que porra toda invenção brilhante no cinema ter que ser motivada por um trauma emocional? É tão implausível assim que alguém resolva levar uma idéia adiante por, sei lá, curiosidade? Amor à ciência? Isso é ridículo e só faz sentido pra gente que tem uma visão de mundo muito limitada. Você acha que Thomas Edison... tudo bem, Edison roubava as idéias dos outros para enriquecer. Mas será que o Nikola Tesla pesquisava eletricidade porque queria reanimar uma esposa falecida? Será que o Santos Dumont (ou os irmãos Wright, dependendo de que versão você considera verídica) inventou o avião porque o sonho de sua filha era voar?  Frankenstein precisava querer criar vida, não porque tal possibilidade era muito massa e revolucionaria a medicina e basicamente, toda a existência humana, mas porque que ele perdeu a mamãe? Sinceramente, Sorkin... Vai se foder! E vão se foder todos os idiotas que achavam que isso era profundo e autêntico e que o final do filme é "irônico" ("Dããããh... Ele tem 500 milhões de amigos on-line, mas nenhum na vida real"). É um artifício fajuto e manjado, assim como são fajutas e manjadas as alusões à insegurança do protagonista (e.g., ele resolveu sacanear os Winklevoss porque tinha inveja de remadores, ou sacaneou com o Wardo porque este conseguiu entrar no Phoenix S K Club, provocando, mais uma vez, inveja). Reparem que se trata de um aluno de Harvard, não de um cidadão comum, de inteligência mediana, num emprego que toma oito horas de seu dia. Creio que, se há um conceito que estudantes de Harvard não logram entender, é complexo de inferioridade. O propósito da artimanha? Qualquer pobre coitado medíocre pode passar o filme todo torcendo pelo protagonista (ou, pelo menos, estarrecido com seu brilhantismo), gênio fodástico mais inteligente que todo o resto da humanidade, e, ao final, continuar seguindo feliz com sua vidinha prosaica, porque "o protagonista de A Rede Social termina triste e solitário" e ele, o espectador debilóide médio, pelo menos, "tem seus amigos e sua família". Picaretagem. Se liga, Rauã! Você não é mais feliz ou bem-sucedido que o Mark Zuckerberg. VOCÊ NUNCA VAI SER MAIS FELIZ OU BEM-SUCEDIDO QUE NINGUÉM!

ENGOLE O CHORO, RAUÃ!
Então, a premissa é manjada e apelativa. Tudo bem, isso não significa, necessariamente, que o filme não seja inovador ou, como preferem os que não conseguem segurar sua onda, "revolucionário". Há de se analisar a execução. O que A Rede Social tem que nunca foi oferecido por outro filme? Será a fotografia singular? Não, as imagens do filme que coloquei acima provam que a cinematografia é até desinteressante em comparação a outros filmes do próprio David Fincher. Para ninguém achar que eu sou um saudosista, provo tal afirmação com uma imagem de um filme mais recente do cineasta:



Mas The Social Network é um filme "baseado em fatos verídicos". Nada mais natural que tenha uma cinematografia mais... ehhh... naturalista. O que mais ele pode ter de inédito? A narrativa fragmentada, não linear? A edição frenética e acelerada?


E eu odeios os filmes do Woody Allen.






Quem diria? Um filme do mesmo diretor!
Não estou nem comparando a qualidade. Só mostrando filmes que são mais velhos. Todos tem uma narrativa não-linear, edição acelerado e ritmo frenético (menos Annie Hall, que tem a narrativa não-linear, mas é chato pra caramba). Pela lógica, tais motivos não justificam qualificar A Rede Social como "revolucionário". E só citei exemplos americanos porque o filme em análise é americano. Se formos pensar em filmes não-estadunidenses que tenham tais qualidades, de cabeça, posso citar três:






O que tornaria o filme "inovador" e "revolucionário", então? Provar que o Justin Timberlake é um bom ator?

Não. Provaram isso em 2006. Não estou sendo sarcástico.
Francamente, o único insight que me ocorreu, ao ver o filme, foi "Putz, o Napster é mesmo muito seboso!"

O que, então? O fato de ser o retrato fidedigno de uma geração? 


Não estou dizendo que foi uma BOA geração, só que o retrato foi fidedigno
Versão moralista.
Versão realista.
De novo! E é do mesmo diretor!
Tenho que dizer, em primeiro lugar, que acho superestimada a idéia de que cinema tem repercussão social. Não conheço ninguém que tenha mudado seu estilo de vida porque viu um determinado filme. Mesmo assim, conheço uma porrada de gente que viu Clube da Luta e alegar ter "repensado sua vida" (e, aparentemente, decidido que era melhor ficar do jeito que estava). Mas é possível dizer que os filmes acima representam de forma razoavelmente autêntica a popularização do conceito de "adolescente", ou a contracultura dos anos 60, o pessoal da disco, os yuppies ou a "Generation X". E posso dizer que pelo menos quatro dos filmes acima fizeram a geração mais velha que a retratada dizer "Que raios há com essa juventude de hoje?"

Já a reação que A Rede Social provoca na geração mais velha à... sei lá... "geração Facebook"? Nem sei se isso existe. Acho que existem, hoje, três tipos de pessoa: as que têm Facebook (os 99%), os que não tem por falta de interesse (reacionários ou misantropos, sendo que eu, até recentemente, me enquadrava na última categoria) e os que não têm condições financeiras de acessar (afinal, não se pode cobrar de um etíope requítico que "deixe de ser tecnófobo e entre no Facebook!"). A reação que o pessoal que está, digamos, na retaguarda, ao ver A Rede Social não será "Não entendo o que há com essa juventude de hoje!" Será "Agora eu entendo essa mocidade de hoje! Eles vivem mexendo com internet, iPhone, iPod, iPad, Twitter, Facebook, iPin, mas isso não traz felicidade! O que eles realmente precisam é de contato humano e uma vida social sadia, como eu tive na minha juventude!" Não, vovô, você não está entendendo porra nenhuma. Você é tão otário quanto o Rauã. O Sorkin deixou essa mensagem no filme para atingir gente retrógrada como você também. Quase todas as pessoas que conheço usam o Facebook, e essas pessoas não são um bando de nerds frustrados e socialmente alienados. São pessoas com vidas sociais perfeitamente sadias.

"Então," indagaria um leitor hipotético, "o que você está insinuando é que o pessoal que achou A Rede Social um filme 'pioneiro' é um bando de velhos que está fora de sintonia com o resto da humanidade? Que a importância exagerada que eles deram ao filme decorre do fato de que este oferece uma explicação superficial e simplista para um mundo que eles não conseguem mais entender?" Ao que eu responderia, "Caramba, leitor hipotético! Você tem superpoderes e acabou de ler minha mente! É exatamente isso que eu estou dizendo!"

Claro, o conceito de velhice que estou abordando aqui não tem nada a ver com idade. Afinal, sabe quem também é velho? O Tiranossauro-Rex, Jesus e o Chuck Norris. O Stallone está no que o politicamente correto quer (sem brincadeira) chamar de "a melhor idade" e continua totalmente badass. Aliás, todo o subgênero geriaction mostra que há um bando de senhores de idade avançada que continua sendo foda. Meu herói, Liam Neeson, já pansou dos 60 anos. O Sinatra morreu com mais de 90 anos e nunca deixou de ser massa. O José Wilker não é mais nenhum menino e o cara, além de excelente ator, entende muito de cinema! E ele nem é um  crítico profissional! O Renzo Mora também não é um adolescente, mas continua (sem bajulações) sendo foda, enxergando muito bem o mundo ao seu redor (com lucidez o bastante para perceber, por exemplo, que o "padrão cabide" de beleza feminina é criação de quem não gosta de mulher), manifestando juízos sempre válidos sem ser um babaca pedante que se leva a sério demais. A velhice de que estou falando, com o perdão do clichê, não é uma idade. É um estado de espírito. Representado perfeitamente pela gente que achou The Social Network um filme "revolucionário". Francamente, toda essa adulação me lembrou os trailers de Watchmen,  que todo mundo sacaneou por aclamarem o Zack "Todos os Filmes que Eu Fiz São Adaptação ou Refilmagem de Alguma Obra Preexistente" Snyder de "visionário". Com a diferença de que eram os distribuidores do filme que estavam chamando o Snyder de "visionário". As pessoas que estão tentando elevar a cinebiografia do Zuck a status de "retrato de uma geração" são pagas para resenhar filmes nos quais não tem nenhum interesse financeiro. E o que elas têm em comum?

"Nunca joguei videogames, mas afirmo que eles não são e jamais serão Arte!"
"A Rolling Stone continua sendo socialmente relevante. E eu sou cool!"
"Esse bando de comunistas quer eleger George Clooney presidente..."
"Até meus colegas me acham um escroto que não honra seus compromissos. Eu sou sofrível! Vou te dizer..."
E o que me deixa, como diz o título do post, ultrajado, é que pessoas bastante inteligentes, mas que se julgam "leigas" no tocante a cinema, tendem (como a minha esposa, por exemplo) a achar que, devido à adoração unânime da "crítica internacional", a cinebiografia do Zuck têm alguma qualidade mística que eles, por não serem "profissionais", não conseguem entender. Não, amor, nào é você quem não entende nada de cinema. São os ineptos que confundiram o filme com o fenômeno que ele retrata (a transformação das redes sociais em algo mainstream) e, não entendendo ambos, calharam por decidir que a obra é "pioneira". Essa gente, muito mais do que qualquer grupo de nerds alienados, está contribuindo para a imbecilização da coletividade. E eles recebem dinheiro para fazer isso. O que, então, posso fazer para tentar contribuir de forma construtiva para reverter tal situação?

Aconselhar o público a ignorar a "crítica profissional de cinema". Mostrar que esses senhores não têm qualificação intelectual para analisar nem novela da Glória Perez, quanto mais decidir o que é "revolucionário" para o cinema. Não, cavalheiros de inteligência limitada, A Rede Social não é um filme revolucionário ou inovador. Não é um marco nem na carreira do David Fincher, quanto mais na história do cinema. Tirem o polegar do reto. Querem ver exemplos de filmes inovadores (e prometo que é a última vez que uso esse artifício neste post)?

Efeito especial tão convincente que acabou fazendo o público torcer pelo "vilão".
Épico de 1939 em technicolor e com protagonistas "complexos" (intragáveis, em minha opiniáo)
Reinventou o cinema
Transformou novelão pulp que glorificava a Cosa Nostra em épico sobre família, honra e passagem de poder entre gerações
Provou que a sequëncia pode superar o original
Demonstrou que horror explícito pode ser um drama respeitável

Adicionar legenda
Criaram o summer blockbuster (não necessariamente boa coisa, mas foi um marco)
Mostrou ser possível retratar a brutalidade do Vietnã sem ser maniqueísta e emo (não gosto de Platoon)
Desconstruiu o faroeste.

Revolucionaram efeitos especiais.


RETRATO DE UMA GERAÇÃO! (gosto deste filme)
Adaptou obra considerada "infilmável" e provou que épicos e filmes de fantasia ainda são comercialmente viáveis
Levou a cabo a idéia de "filme de super-herói realista" e criou o gritty reboot
É, basicamente, "Dança com Smurfs", mas mostrou que CGI e 3D podem ser ferramentas eficazes para promover a imersão do espectador
 
Freddy Krueger, interpretado por Leonardo DiCaprio, é o herói
Ganhou todo o dinheiro do universo e provou, centavo por centavo, que o nerd virou mainstream
Provou que a "Crítica Profissional de Cinema" é uma fraude internacional
Pensando bem, A Rede Social é, sim, um marco. Não na história do cinema, mas na minha vida, porque, doravante, recuso-me a ler "críticos profissionais de cinema". Foi a gota d'água. Esses caras são horrendos, retrógrados e completamente obsoletos. Há dez anos perdi a última centelha de fé que tinha no Oscar e, deste momento em diante, não confio mais, sob nenhuma circunstância, na opinião desses cidadãos. Até que uma nova geração se torne "a crítica profissional", não vou seguir seus conselhos na hora de decidir o que vou assistir. E vou mandar link deste post para todos os emails que encontrar pela frente (não farei spam; o título da mensagem vai ser: "FÃ DE CINEMA? LEIA ISTO. NÃO É FÃ DE CINEMA? APAGUE ESTA MENSAGEM SEM LER"). Por mais ínfima que seja, esta será minha contribuição para proporcionar um mundo melhor a meu semelhante. 

Naturalmente, nosso "trio calafrio" brasileiro não fez feio junto aos colegas anglo-saxões. OS TRÊS ENGOLIRAM COMPLETAMENTE A DIMENSÃO "TRAGÉDIA GREGA"/PICARETAGEM MANJADA QUE O SORKIN TENTOU ATRIBUIR À HISTÓRIA DO ZUCK! Sinceramente, fui, ingênuo, ver as resenhas do Pablo Vilaça, Isabela Boscov e Rubens Ewald Filho achando que eles seriam menos horríveis que os críticos que figuram na capa do Blu-Ray, mas não - a Sony podia muito bem ter colocado citações dos três na capa. Pablo Vilaça e Isabela Boscov são péssimos (e eles, provando que velhice é um Estado de espírito, nem são idosos!). Não li as resenhas deles antes de escrever o presente parágrafo, mas parece, para a minha surpresa, que todos os argumentos que aduzi neste post visam combater a opinião dos dois.

Rubens Ewald Filho, contudo, foi quem se superou. Sua crítica não só foi ruim e previsível, mas demonstrou que o referido senhor continua reiterando um argumento perigosamente imbecil e ofensivo, qual seja, verbis "Nunca gostei muito de David Fincher, porque ele fez Clube da Luta, um filme moralmente discutível que provocou justamente no Brasil, um assassinato num cinema (onde morreu uma amiga minha). Eu vi o filme no Festival de Veneza e antes já cantava a bola de sua mensagem para as mentes mal formadas." Rubens, meu prezado, a única mente mal formada aqui é a sua. Como já dito, acho um exercício de futilidade procurar "mensagens" em filmes. A única coisa que procuro é uma história bem contada e visualmente envolvente. Mas, se eu fosse dizer que Clube da Luta tem uma mensagem, seria, obviamente, a seguinte: "o consumismo cego ensejou uma vácuo espiritual que deixou toda uma geração vulnerável e despida de identidade cultural, tornando-a propensa a acreditar a mensagem de qualquer desequilibrado delirante que apareça com algum discurso minimamente coerente." Tyler Durden e o Narrador podem ser os protagonistas do filme, mas não são os heróis. O personagem principal é, literalmente, insano. O momento mais assustador do filme, em minha opinião é a do "Seu Nome É Robert Paulson" - mesmo na faculdade, eu e meus colegas morríamos de rir com tal cena, estarrecidos com o nível de alienação dos personagens. E Tyler Durden, claro, pode servir de avatar, por exemplo, a fundamentalistas islâmicos que acabaram convencendo inúmeros europeus descendentes de muçulmanos a abraçar uma doutrina monstruosamente estúpida, simplesmente porque o bem-estar social e o alcance de todas as metas materialistas os deixaram num vácuo espiritual e sedentos por qualquer ideologia que desse sentido a suas vidas. Claro, usei os terroristas islâmicos como uma dentre várias categorias de pessoas que podem incutir mensagens equivocadas em pessoas influenciáveis. Eis outra dessas pessoas:

E ele nem tem cabelos brancos!
A mensagem, batida e ordinária, mas sempre repelente e pró-censura: que filmes "provocam violência". Que, mais especificamente, Clube da Luta provocou uma tragédia: o tiroteio no MorumbiShopping, durante a exibição do filme. À época, se falou muito sobre a suposta "influência do filme", mas depois, como se pode inferir da matéria a que remete o link retro, tal polêmica se provou infundada. O deliquente era portador de vários distúrbios mentais, toxicômano e alegou que "planejava fazer algo do tipo há mais de sete anos". A desgraça teria ocorrido mesmo que o filme em exibição fosse A Noviça Rebelde. Suspeito que Rubens Ewald Filho tenha conhecimento disso. Lamento, sinceramente, que ele tenha perdido uma amiga no tiroteio. Mas desconfio, também, que ele saiba que o filme em questão nada teve a ver com o crime, e, inobstante, continua a pregar essa ladainha, por acreditar que é melhor prevenir que "mentes mal formadas" sejam expostas a mensagens que só arautos da moralidade e dos bons costumes (como por exemplo, Rubens Ewald Filho) podem filtrar. O tipo de gente que prefere, implicitamente, eximir criminosos da responsabilidade por seus atos e atribuí-la a obras que estão além de suas limitações intelectuais. O tipo de gente que provocou a histeria dos Video Nasties na Inglaterra. O tipo de gente que só é conhecida graças ao direito constitucional à liberdade de expressão que, se deles dependesse, provavelmente seria negado ao resto da população. E é esse o homem que influencia milhões de brasileiros que vão contar com sua opinião para decidir em que filme vão investir seu suado dinheiro? É esse o "mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro"? Um homem que se vale de uma mentira deslavada para criar um falso mito, mediante a calúnia de um inocente? É hora de descartar a opinião desse homem e de todos os indivíduos como ele. É hora de buscar o juízo de quem realmente sabe do que está falando, quando surgir dúvida a respeito de ver um filme. E quem. seria qualificado para emitir tal opinião? Eu? Certamente. Mas não estou utilizando esse argumento para me promover. Se você me acha um retardado que não sabe do que está falando, a formação de tal juízo é prerrogativa sua. Há várias outros que merecem ser lidos. Leia o B-Masters Cabal. Busque a opinião do supracitado Renzo Mora, exceção que confirma a regra. Informe-se com o Felipe M. Guerra, do Filmes para Doidos, que entende de cinema e não cobra para compartilhar suas opiniões (embora mereça). Leia as resenhas do Ronald Perrone, do Dementia13 que, ao falar sobre filmes de kickboxing dos anos 80 - cuja premissa é, quase sempre, "kickboxer badass enche a cara de malfeitores de chutes" - demonstra muito mais compreensão da arte cinematográfica do que todos os "críticos profissionais" supracitados. Façam como quiserem! Ninguém vai interferir! A web é sua! O cinema, esta grande arte... Ela vai sobreviver! E, se estou parecendo um vilão de filme do Batman lançado recentemente, perdoem-me. A semelhança é total coincidência.

Afinal, o Batman concordou em ser bode expiatório e o Comissário Gordon tinha as melhores intenções. O Rubens é só ignorante.

Sei que pode parece que tenho alguma coisa pessoal contra todos os críticos citados de forma pejorativa, mas não é o caso. Não sei nada sobre a vida pessoal deles. A Isabela Boscov, por exemplo, me parece ser uma pessoa muito amável, embora não saiba do que fala. Acho que eles merecem respeito, como todo ser humano decente. A opinião deles sobre cinema, contudo, não merece nenhum respeito. E abro exceção, naturalmente, no caso do Richard Corliss e, principalmente, do Rubens Ewald Filho, por quem sinto total repugnância. Estes caras são um nojo. Para o inferno com eles.

Argh. Vou é ver Mercenários 2, para tirar o ranço que escrever sobre esses dois provocou.







2 comentários:

  1. Infelizmente, tenho que concordar com tudo. A "crítica séria e profissional" que deveria servir de exemplo, está por aí cagando pela boca (ou pelos dedos) em seus veículos, sejam eles quais forem. No Brasil, temos raras exceções, como o Inácio Araújo, Sergio Alpendre, Filipe Furtado, Carlos Primati, e alguns poucos... mas o que realmente vale a pena ler estão espalhados nos blogues de indivíduos que não combram um centavo para compartilhar seus conhecimentos. Mas tudo isso, você explorou muito bem no post...

    PS1: Eu também gosto do David Fincher, inclusive do seu Alien. ;)

    PS2: Obrigado pela menção, apesar da hipérbole. Hehe!

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    1. Não seja modesto, meu nobre. Isso é metade do pecado da soberba... Rs... A menção foi totalmente merecida.

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